15 de set. de 2013

Exaltação da Santa Cruz (2ª parte)


    O canto da entrada lembra Gál 6, 14: “Que eu me glorie somente na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo”. As palavras seguintes, “o mundo crucificado para mim e eu para o mundo” (versic. 15), alimentaram entre os cristãos de antigamente um desprezo pelo mundo. Não é, contudo, com desprezo da realidade terrestre que devemos olhar a Cruz, mas como sinal de Salvação. Para Paulo, para João, para nós, a Cruz é sinal de salvação. Por isso, o mundo não tem mais o mesmo significado. Só conseguimos dar-lhe pleno valor na medida em que ele é marcado pela Cruz de Cristo, o sinal da Vida doada em amor até o fim.

A GLÓRIA NA CRUZ


    No Brasil, “Terra da Santa Cruz”, convêm contemplar a cruz de Cristo. Não para recair no dolorismo dos tempos idos, quando se pensava que quanto mais sofrimento, mais regalia no céu. E que Jesus teve de sofrer na Cruz para “pagar” a Deus. A liturgia de hoje nos ensina a olhar para a Cruz num outro sentido: como manifestação do próprio ser de Deus, que é maior. A cruz não é instrumento de suplicio que Deus aplica a seu Filho (por nossa
culpa), mas o sinal de quanto o Pai e o filho nos amam – o Filho instruído pelo Pai (“obediente até a morte”, 2ª leitura). Nada de sádica exigência de sangue, só amar até o fim (cf. Jo 13, 1; 19, 28 – 30).


    - Ninguém jamais viu Deus (Jo 1,18). Portanto, não temos nenhuma razão para pensar que ele seja um Deus cobrador, castigador. O único retrato de Deus que temos é Jesus (Jo 1,18). Mas esse retrato só ficou pronto na hora em que Jesus ia dar sua vida pelos que o seguiam, os que acolhiam sua palavra e pelos que através destes iam lhe acolher – na véspera da morte – “Quem me viu, tem visto (= tem diante dos olhos) o Pai” (Jo 14, 9). Nestas palavras resume-se toda a existência humana de Jesus, sua pregação ao povo e aos discípulos, seus gestos de amor e de libertação, coisas que ele não quis negar, como também não renegou seus amigos, na hora do perigo de morte. Amou até o fim (Jo 13, 1) e por isso, rompendo com os poderes deste mundo e vencendo-os pelo amor, morreu a morte dos escravos e rebeldes, na Cruz.

    Essa Cruz, é portanto, o estandarte sobre o qual se eleva e se exibe ao mundo o próprio Ser de Deus, seu amor que é sua glória. Ela atrai a si o olhar de todos que procuram a salvação (Jo 12, 32 – 33). E assim como há uma relação entre o mal e o sinal de salvação para o qual levantam os olhos (cf. 1ª leitura, a serpente levantada), assim também enxergamos no Cristo elevado na Cruz o mal do qual ele nos cura: o sofrimento que nosso desamor causa a ele e a todos nós. Aniquilado pelo pecado do mundo, ele nos mostra no seu corpo e sangue o infinito amor do Pai que nos quer salvar (evangelho).




Contemplar a CRUZ não é afundar no dolorismo, mas reconhecer o AMOR de DEUS que SALVA o mundo do desamor.



As três leituras desta celebração:

Primeira leitura: (Números 21, 4b - 9) O sinal Salvador Levantado Diante do Povo.

Segunda leitura: (Filipenses 2, 6 - 11) Humilhação e Exaltação do Senhor.

Evangelho: (João 3, 13 - 17) O Filho do Homem Levantado.