14 de set. de 2013

Exaltação da Santa Cruz

    Como na festa da Transfiguração, também a da Santa Cruz é intensamente celebrada na Igreja Oriental. Ambas as festas participam da mesma atmosfera: a presença da gloria divina no sofrimento e morte de Jesus na Cruz, mistério percebido com profunda sensibilidade pelos cristãos orientais e muito valioso também para nós. Tenha-se diante dos olhos os ícones ou cruxificos com Cristo glorioso comuns na Igreja Oriental. A liturgia renovada deu a estas festas, juntamente coma da Epifania, um destaque especial, com vistas exatamente à comunhão com as Igrejas Orientais, que, além de significar a unidade, é também um grande enriquecimento para o Ocidente materialista e secularista.

    A origem da festa remonta à dedicação das basílicas da Gólgota e do Santo Sepulcro, construídas pelo imperador Constantino, em 13 de Setembro de 335, sendo que no dia seguinte se mostrava os restos da Santa Cruz. 

    O fio Central da Liturgia de hoje e o simbolismo da elevação na Cruz como elevação na glória, desenvolvida por João no Evangelho (Jo 3, 13-17; cf. tb. 12, 32-33 e 19, 37 – lembrando Zacarias 19, 37): “Contemplarão aquele que transpassaram”). A 1ª leitura vê este simbolismo prefigurado no episódio da serpente de bronze que Moisés levantou diante dos olhos dos hebreus para esconjurar a praga das serpentes (possivelmente lembrança de um antigo culto, cf. 2 Reis 18, 4). O tema da elevação/exaltação, inspirado por Is 52, 13 (o Servo Padecente, 4º cântico do Servo) preside também à 2ª Leitura, sendo que aqui a exaltação é contrabalanceada pelo rebaixamento (esvaziamento, quenose) no sofrimento infligido àquele que nem deveria consiste apropriação injusta a forma divina (Filip 2, 6-11). Observe-se que neste maravilhoso texto o rebaixamento não é a encarnação na existência humana, mas a forma de servo/escravo em que essa encarnação é vivida por Jesus. 



    Olhando o conjunto dos textos somos levados a penetrar mais profundamente neste mistério, que constitui a intuição principal do Evangelho de João: o dom da vida de Jesus, morrendo por amor fiel até a morte, na Cruz, é a manifestação da Gloria, isto é, do ser de Deus que aparece: pois “Deus é Amor” (1 Jo 4, 8-9), a tal ponto que Jesus, na hora de assumir a morte na Cruz, pode dizer: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14, 9). 


    Mas essa manifestação da glória de Deus no amor de Cristo que dá sua vida por nós na Cruz tem conseqüências práticas para nós: “Jesus deu a vida por nós;por isso nós também devemos dar a vida pelos irmãos” (1 Jo 3,16). Também o hino citado por Paulo na 2ª leitura está num contexto semelhante: Jesus esvaziado como escravo e exaltado como Senhor é o exemplo dos que se reúnem em seu nome, para que considerem os outros mais importantes que a si mesmo e tenham em si o mesmo pensar e sentir dele (2, 1-5).