(1ª parte)
A liturgia de hoje é marcada pela idéia de intercessão de Maria, padroeira principal do Brasil. A 1ª leitura lembra a intervenção da rainha Ester junto ao Rei Assuero em favor do povo judeu, ao qual ela mesma pertencia. Ao mesmo tempo, menciona-se a graciosa beleza desta “flor de seu povo”.
O evangelho é escolhido em função da idéia da intervenção de Maria no milagre do vinho, nas bodas de Cana. Convém observar que Maria aí aparece como a “Senhora Mãe” – o tratamento hebraico “mulher” significa isso -, que sente responsável pelo que diz respeito a sua família: a presença de Jesus e seus amigos a fez sentir-se responsável pelo abastecimento de vinho. Ora, este evangelho não é propriamente Mariológico, mas Cristológico. Mostra Jesus dando início aos sinais de sua grande obra (Jo 2, 11), antes que se realize a sua “hora”. A abundância de vinho é um sinal de que Jesus vem cumprir a missão messiânica (cf. abundância de vinho no tempo messiânico, Amos 9, 13, 1ss; 17, 5 etc.).
Temos aqui em ensejo para explicar o sentido do costume de pedir “graças” a Deus pela intercessão de Nossa Senhora. Geralmente, pedem-se benefícios materiais. Mas Deus e Maria não têm como tarefa específica resolver nossos problemas materiais. As graças materiais são apenas sinais de que Deus nos quer bem. Ora, ele nos quer bem sempre, também no sofrimento e na ausência de benefícios materiais! Por outro lado, nem todo benefício material pode ser interpretado como sinal do bem-querer de Deus, pois há muita gente materialmente bem provida cujo coração está longe de Deus! Reflitamos, pois, a partir do presente evangelho, sobre o sentido de pedir graças mediante a intercessão de Nossa Senhora. Em Caná, Maria pede uma intercessão material, e esta se realiza, porém não como um fim em si, mas como um sinal da grande obra de Cristo, sua morte, na “hora” que naquele momento não havia chegado (2,4). Assim também, o que nós pedimos pela intercessão de Nossa Senhora, sendo atendido conforme o pedido ou de outro modo, se torna sinal do amor até morrer, que seu Filho nos dedica. É assim que devem ser interpretadas as preces de súplica: “Daí-nos, Senhor, um sinal de vosso amor”.