31 de dez. de 2013

Santa Mãe de Deus (A) - 1ª parte


Nascido de mulher, nascido sob a lei 

Quem se lembra da antiga liturgia gregoriana terá saudades hoje, da maravilhosa antífona Salve Sancta Parens (Salve, Santa Genitora), a participação de Maria no mistério da Encarnação. Celebramos a Oitava de Natal. Ora, ao oitavo dia do parto confere-se ao filho da circuncisão (nome antigo da festa), acompanhada da imposição do nome. É a integração na comunidade judaica. A segunda leitura ressalta a maternidade e o rito judaico:

“Nascido de mulher, nascido sob a Lei”
Gálatas 4, 4

Mediante a figura de Maria é celebrada a inserção de Jesus na humanidade especificamente, na comunidade judaica. Pois Jesus não era “bom demais” para nascer como homem. Nem para ser submetido à lei judaica. Com isso combinam bem o fato de celebrarmos essa festa no inicio do ano civil, lembrando a benção do ano novo israelita (primeira leitura), reforçada pelo pedido de benção (salmo responsorial). Aliás, o nome que Jesus recebe (evangelho) é uma benção: Ieshua, “Javé Salva”.

Através do nascimento maravilhoso, Maria deu Jesus à humanidade como um presente de Deus (cf. 4° domingo do Advento), no seio de um povo com leis e costumes, povo sobre o qual Deus faz “brilhar sua face”, e o nome de Jesus traz a benção do Senhor. 

Jesus, “o Senhor Salva”, este é o nome que doravante será invocado sobre a humanidade.
(cf. Num 6, 27). 

A medição da comunidade de Israel no projeto salvífico de Deus nos ensina que Ele não ama em geral abstratamente, mas através de pessoas e comunidades concretas. Só aquilo que é concreto pode ser realidade. Assim como Maria, no meio do povo de Israel, foi o caminho concreto para o Salvador, serão comunidades concretas as portadoras de Cristo como Salvação para o mundo de hoje. Assim, Maria é protótipo da Igreja e das comunidades eclesiais (cf. oração do dia)

A festa de hoje remete também à reconhecida discussão teológica que reclamou para Maria o título de Theótokos, “genitora (Mãe) de Deus(concílio de Éfeso). De certo, Deus não tem mãe, mas escolheu Maria como mãe para o Filho que em tudo realiza a obra de Deus. Santificou em Maria a maternidade quando o Filho assumiu a humanidade. Deus experimentou a realidade íntima da maternidade em Cristo. A maternidade é, como a humanidade, capax Dei, capaz de receber Deus... Deus é tão grande que conhece também o mistério da maternidade, e por dentro! 

Para captar isso talvez tenhamos de modificar um pouco nosso conceito de Deus.
Pe.João Azeredo