A primeira vista, falta na liturgia de hoje o "Benedictus", o canto de ação de graças de Zacarias ao nascimento de João (Lucas 1,68-79), cortando fora da perícope evangélica (talvez porque a liturgia foi composta por monges, que rezam esse cântico cada manhã no divino ofício e acharam que ele sobrecarregaria a missa). Ora, nada impede de usá-lo como salmo responsorial, ou como canto da comunhão, que cita um versículo dele como antífona.
Na atualidade que vivemos, a presente festa oferece uma ocasião para iluminar os profetas de hoje, essas pessoas "difíceis", cujo nascimento foi uma graça, e por isso agradecemos a Deus anunciando o Sol.
É nesses versos que aparece a beleza da evocação na missão de João:
"E tu menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque irás à frente do Senhor, preparando os seus caminhos, dando a conhecer a seu povo a salvação, com o perdão dos pecados, graças ao coração misericordioso de nosso Deus, que envia o sol nascente para nos visitar..." (Lucas 7,76-78).
O sol nascente é Jesus. E quando nascer esse sol nascente, a luz da lua (ou da estrela da manhã?) deverá diminuir, como o próprio João (João 3,30).
De fato, o batista, como é apresentado na bíblia, está totalmente em função daquele que vem depois dele, Jesus. Essa perspectiva dos evangelhos talvez não tenha sido a dos seus contemporâneos, como mostram alguns traços dele encontrados fora da bíblia. Mesmo na bíblia encontramos indícios de que a atividade histórica de João não foi totalmente absorvida pela de Jesus (Atos 19,1-6, os dicípulos do batista em Éfeso por volta de 50 d.c.). Mas para os evangelistas, a obra do batista foi o anúncio do sol que estava nascendo, a luz prometida por Deus a seu povo:
Jesus de Nazaré.
Não só João preparou a chegada de Jesus; ele é a plenitude de todos os profetas, sendo o último e o maior deles, o decisivo, aquele que encerra o anúncio profético do antigo Israel.
"Até João, a lei e os profetas! A partir de então, o reino de Deus está sendo anunciado, e todos usam de força para entrar nele"(Lucas 18,16).
Ele é descrito como um novo Elias, pois ele era esperado para preparar, com sua pregação de conversão e reconciliação, a visita final de Deus a seu povo (cf. Eclesiástico 48,10).
Estamos inclinados a pensar que a missão do Batista terminou no ano 30, quando Jesus se apresentou. Mas em todos os tempos a missão do Batista continua necessária, pois a luz do sol ainda não surgiu em todos os lugares, e pode acontecer também que em algum lugar já tenha escurecido. Anunciar o sol é uma figura para dizer que em todas as circunstâncias é preciso preparar os corações para receber o enviado do pai, o próprio filho de Deus. Em nossa sociedade urbana-industrial, o sol de Cristo parece estar nublado. Quem sabe, pela poluição mental. Quando nesse ambiente apresentamos todo o "aparato" Cristão, isso é recebido com uma mentalidade sensacionalista, comercial, não como a luz benfazeja do sol, mas como o cintilar da propaganda. Não seria melhor mandar um João Batista à frente?
Pe.João Azeredo