A liturgia do dia dos finados poderia ser chamada também a liturgia da esperança. Pois, como “o último inimigo é a morte” (1 Cor 15, 26), a vitória sobre a morte é o critério da esperança do cristão. A morte é considerada espontaneamente, como um ponto final: “tudo acabou”. A resposta cristã é: “a vida não é tirada, mas transformada” (Prefácio). Esta resposta baseia-se na fé na ressurreição de Jesus Cristo. Se Ele ressuscitou, também para nós a morte não é o ponto final. Somos unidos com Ele na vida e na morte (Jo 11, 25 – 26; evangelho) ele é a ressurreição e a vida: unir-se a Ele significa não morrer, não parar de existir diante de Deus, embora o corpo morra e se decomponha.
Trata-se de uma fé, de uma maneira de traduzir o mistério de Deus e da totalidade da existência. Já no antigo testamento, o autor de Sabedoria observa que as aparências enganam: a Justiça dos justos não é um absurdo diante da morte (“Ele não aproveitou nada da vida!”). Pelo contrario, é o começo do estar na mão de Deus, que não tem fim (1ª leitura). Assim também descreve Paulo a existência cristã como estar já unido com Cristo na ressurreição, o que é simbolizado pelo batismo (2ªleitura).
Assim, a morte, para o cristão, é a pedra de toque da sua vida. Da seriedade à sua vida. Valoriza, na vida, o que ultrapassa o limite da matéria, que é “só para esta vida” (1 Cor 15, 19). Abri-nos para o que é realmente criativo e supera o dado natural da gente.Um ante gosto daquilo que é “vida pneumática”, a gente o tem quando se supera a si mesmo, por exemplo, negando seus próprios interesses em prol do outro. O verdadeiro amor implica, necessariamente, morrer a si mesmo. Superação do homem confinado na perspectiva material, tal é a realizada espiritual que encontrará confirmação definitiva e inabalável na morte. Na morte, o que é verdadeiro e definitivo em nosso existir supera a precariedade da existência, a morte é nossa confirmação na mão de Deus: Ressurreição.