A festa de todos os santos abrange os três momentos do tempo, além da dimensão universal do espaço. De fato, celebramos os justos do passado, celebramos a vocação à santidade futura (o “céu”) e celebramos a santidade como Dom (Graça) presente.
Com esta dimensão presente é a em que menos se pensa quando se fala de santidade, achamos que ela merece uma atenção especial: é a mensagem das bem-aventuranças, no evangelho de hoje (Mt 5, 1-12, cf. 4° dom. TC. /A). As bem-aventuranças devem ser entendidas como uma proclamação da chegada do reino de Deus para as pessoas que vão ficar felizes com isso (Lc 6, 24-26) acrescentam também aqueles que vão ficar infelizes.
São ao mesmo tempo, a proclamação da amizade de Deus para aqueles que participam do espírito que é evocado por oito exemplificações, e (sobretudo na versão de Mt) um programa de vida para todos os que escutam a palavra de Cristo.
Este programa de vida já entra em ação desde o momento que alguém se torna discípulo de Jesus: os que estão realizando este programa já são “santos”. Por isso, este evangelho foi escolhido para a festa de hoje. Jesus proclama a bem, aventurança (a felicidade, o “bem encaminhamento”, a “boa ventura”) dos “pobres de espírito” (= semitismo: os dimuídos até no alento da vida; não se trata de questionável “pobreza espiritual”, porque deles é o reino dos Céus, ele não quer dizer o além da morte – uma recompensa futura pela carência da terra – mas a realidade presente. “Reino dos Céus” é a maneira semítica de dizer “Reino de Deus” (por respeito, Deus é chamado “os Céus”). E o Reino de Deus começa onde se faz a vontade de Deus, como aprendemos no Pai-Nosso, Que Jesus ensina em seguida (Mt 6, 9-13). Se entendêssemos as bem aventuranças somente como uma compensação para depois da morte, elas seriam “ópio do povo”. Mas o contrario é verdade: elas são um incentivo para realizar, desde já o novo espírito que traz presente o Reino. O sentido das bem aventuranças, é exatamente, relacionar o Dom escatológico (expressas nos termos: “serão consoladas, serão saciadas”, etc.) com a realidade de hoje. O dom escatológico não cai do céu mediante a atuação de algum mágico, mas é o que, da parte de Deus, corresponde a atitude do justo, do servo, do “pobre do Senhor”. Corresponde à atitude de não procurar a mera afirmação pessoal no poder e na riqueza mas de dispor-se inteiramente para a obra de Deus “opus Dei”, pelo esvaziamento, a mansidão, a paciência no sofrer, a sede de justiça divina, o empenho pela paz... Em outros termos, somos santo já, na medida em que pertencemos a Deus no presente. Então, também o futuro de Deus nos pertence.