Reino da Cruz, Reino da Fé
Foi genial a idéia dos compositores da renovada ordem litúrgica, de escolher a morte de Cristo na Cruz como Evangelho para a festa de Cristo Rei. O ensejo imediato para esta escolha forma os insultos dos soldados e do “mau ladrão”, como também a prece que o “bom ladrão” dirige ao Crucificado. Todos eles aludem à realeza (messianismo) de Jesus, os primeiros num sentido de escárnio, o último, ao contrário, com um espírito de fé, que lhe consegue a resposta: “Hoje ainda estarás comigo no paraíso”.
• Para Lucas, o Reino de Cristo inicia realmente na hora da Cruz, e dele participa aquele que encarna o modelo do comum dos fiéis: o pecador convertido (cf. a pecadora, o publicano, o filho pródigo, Zaqueu, etc.). Isso significa entre outras coisas, que o Reino de Deus (cf. Paulo em Col 1, 20; 2ª leitura). A verdadeira paz messiânica, para Lucas, não é tanto o lobo e o cordeiro pastarem – juntos (Is 11, 6-9), mas o homem ser reconciliado com Deus e participar da vida divina, no “paraíso”, restauração da inocência original. Deste Reino, homem participa pela fé, que se expressa na oração(outro tema – caro a Lucas): a prece do bom ladrão não é apenas um pedido, mas também confessa Jesus como Rei (“no Teu Reino”, 23, 42). Como, anteriormente, à guisa de prefiguração, outras personagens receberam cura por causa da sua fé (por ex., Lc 18,42), o bom ladrão – recebe o paraíso por causa da sua fé. Podemos, portanto, dizer que, para Lucas, o Reino de Cristo é essencialmente seu poder de reconciliar com Deus os que acreditam nele. Essa reconciliação tem como Centro a Cruz, ato supremo de amor e serviço de Jesus para seus irmãos. No homem de Nazaré, morto por amor, Deus encontra reconciliação com a humanidade, pelo menos, se, pela fé e a conversão ela se solidariza com o filho amado.
• A 2ª leitura elabora a mesma visão em termos diretamente teológicos. Deus nos assumiu no Reino de Seu Filho amado (Col 1, 13), no qual temos a salvação e a remissão dos pecados (1, 14). Segue então o famoso hino cristológico (Col 1,15 – 20), que canta Jesus como sendo aquele em que mora a plenitude de Deus: Deus lhe deu tudo, e mais, “quis morar nele com toda sua plenitude” (1,19). Paulo desenvolve sua Cristologia num sentido corporativo: Jesus é a cabeça, a Igreja é o Corpo. Ora, a cabeça não é separada do corpo. Juntas formam a “plenitude”. Sacrificando-se Cristo por nós, em obediência, na morte da Cruz, nós é que somos reconciliados. Assim – e notemos alusão à terminologia messiânica – Cristo instaurou a “paz” pelo sangue de sua Cruz (1, 20).