26 de mai. de 2013

Santíssima Trindade (C) - 1ª parte

SOLENIDADE DO SENHOR NO TEMPO COMUM

A SABEDORIA DE DEUS E SEU AMOR EM CRISTO

Deus é o “mistério”.
E isso não significa, sua inacessibilidade, ou cognos cibilidade. significa antes que, enquanto “nele nos movemos e existimos” (Atos 17,28)nossa compreensão não consegue englobá-lo. 

Por isso, Ele se manifesta exatamente naquilo que nos envolve, em primeiro lugar, na insondável sabedoria com que o universo foi feito. Assim, o judaísmo viu na sabedoria de Deus a realidade preexistente ao próprio universo:  A primeira criatura de Deus (1° leitura). 

Aos poucos, o que os antigos vagamente vislumbraram articulou-se mais claramente naquele que João chama “a palavra de Deus(Jesus Cristo), que não apenas nos faz ver a maravilha da inteligência divina na criação, mas nos revela o mais íntimo ser de Deus, o seu amor.

Porém, a revelação de Deus em Jesus Cristonecessariamente histórica, por ser amor para os homens históricos, só é possível de modo histórico - não desparecendo com CristoEspírito que animou Cristo ficou conosco, e tornou-se para nós sua memória atuante, uma eterna presença Daquele que no sentido mais pleno pensável, é o “Filho de Deus”.

É essa a linha que une a 1° leitura ao evangelho. No meio da 2° leitura está um texto de Paulo sobre o mistério do amor divino manifestado em Jesus Cristo (Rom 5,1-5). O homem encontra a justificação, ou seja, a aceitação por Deus, na fé em Jesus Cristo:

Fé que é confiança de vida e adesão comprometida.

Entregando-se a Jesus Cristo, a sua palavra e exemplo, o homem cai, por assim dizer, nos braços de Deus. Por isso, até as tribulações enfrentadas por causa do Cristo são uma felicidade, pois nos unem a Ele mais ainda. A vida se transforma então em constância que não decepciona, pois já temos as primícias da realização da plenitude.

Espírito que foi derramado em nós.

Paulo conhece a Cristo somente “no Espírito”. Não O conheceu fisicamente, mas o “vive” pela presença de seu Espírito que é o início da plenitude das promessas de DeusA “paz” (cf. v. 1).

Na presente liturgia, aparece claramente que o mistério da Santíssima Trindade, contempla o que nos ultrapassa. É a tríplice realidade divina, presente em Jesus de Nazaré e em seu Espírito, animando a história da Igreja, como animou também a história salvífica anterior, não se deixando “compreender” em nossos conceitos lógicos, mas envolvendo-nos.

Pode-se comparar Deus com o horizonte. A gente nunca consegue englobar na vista, pelo contrário, quanto mais se penetra neletanto mais ele se amplia e se aprofunda. Descobrimos tal horizonte, não só na transcendência que fundamenta todo o ser (Deus Criador), mas também na existência de Jesus e na atuação do Espírito transcendente (não sujeito as nossas categorias) que nos impulsiona. Penetramos nesse horizonte, e quanto mais nele penetramos, tanto mais se revela como mistério. Não o podemos compreender, mas sim celebrar.

A partir da presente liturgia podemos fazer uma meditação sobre a inserção do cristão neste mistério hoje. O mistério serve para inserir-se Nele (cf. os “mistérios” da antiga Grécia), o horizonte toma sentido quando a gente se deixa envolver nele. Ora, se em Cristo conhecemos o Pai (Jo 16,15), e se tudo o que se realizou em Cristo, em termos de revelação divina, é atualizado para nós na percepção do momento histórico eclesial (16,13).A verdadeira celebração da tríplice presença de Deus acontece quando, diante da realidade de hoje, rejeitamos os falsos deuses da posse, do poder e do prazer, assumindo o caminho de Cristão, do amor que fala de Deus engajado na comunidade eclesial, animada por seu Espírito no caminho dos pobres, das vítimas dos falsos deuses...

Uma outra linha de explicitação da liturgia de hoje poderia ser o tema da justificação pela fé, sobretudo por estarmos no ano “lucano” (Lucas tem em comum com seu mestre Paulo uma especial atenção pela gratuidade do amor de Deus). O texto de Romanos (5,1ss)sugere que a justificação gratuita pela fé, é deixar-se envolver na comunhão do amor do Pai e do Filho.

Pe.João Azeredo