30 de mai. de 2013

SANTÍSSIMO SACRAMENTO DO CORPO E SANGUE DO SENHOR (C) - 1ª Parte

DOM DE CRISTO À SUA COMUNIDADE

Neste ano “Lucano”, vale a pena considerar o evangelho de Corpus Christi (multiplicação dos pães) sob o ângulo de Lucas. Quando se compara seu texto com o de Marcos, nota-se uma extrema simplificação. Em Marcos, a multiplicação do pão está no fim da missão dos discípulos, que inclui a narração retrospectiva da morte de João Batista, ensejada pela opinião de Herodes sobre Jesus (Marcos 6, 14-29). Lucas conserva a pergunta de Herodes numa forma mais acentuada que em Marcos. Em Marcos, Herodes fica duvidando se Jesus seria João voltando à vida, e em Lucas (6,9), a pergunta é: “Quem é este, de quem eu ouço tantas coisas?” Omitindo a retrospectiva da morte de João (3,19-20), Lucas traz imediatamente a multiplicação do pão (6,10-17). Depois, omite toda a matéria de Marcos referente à segunda multiplicação do pão (Afinal, para que contar duas vezes a mesma história?), e traz imediatamente como contrapeso da pergunta de Herodes, a pergunta de Jesus

“Quem dizem os homens que eu sou?”,



com a resposta de Pedro:  “Tu és o Messias de Deus
(9,18-22; cf. Marcos 8,27-29)

Para Lucas, a multiplicação dos pães sugere a resposta à pergunta de Herodes (“Quem é este?”), no sentido de que Jesus é o Messias (como diz Pedro). Lucas apresenta a multiplicação dos pães com um sinal messiânico. A própria situação do acontecimento era messiânica:

Jesus estava falando do Reino de Deus (9,11).


Esse sinal messiânico, tem em Lucas, como nos outros evangelhos, feições eclesiais. Todos os evangelistas acentuam a maneira “eucarística” com que o pão é dado à multidão:

“Tomado os cinco pães...Levantou os olhos para o céu, pronunciou a benção sobre os pães, e repartiu e deu-os aos discípulos, para que os entregassem à multidão” (9,16).


Parecem as palavras da Consagração. A eucaristia da Igreja é a plenitude daquilo que Jesus “assinalou” na multiplicação do pão. Mas essa plenitude passa por um momento transformador: a Cruz de Cristo. Isso, no-lo ensina a 2° leitura (relato paulino e lucano), da instituição da Ceia:

Jesus dando o pão e o vinho da mesa pascal o sentido de serem seu corpo e sangue dado por nós no sacrifício da cruz.

O verdadeiro messianismo de Cristo, a verdadeira libertação não ocorreu lá nas colinas do mar da Galiléia, mediante a saciação da fome, mas na colina do Gólgota, quando a vida do justo e Servo de Deus foi dada em prol dos homens. Não é um pedaço de pão que liberta os homens, mas a vida justa dada até a morte. O pão pode ser disso um sinal muito significativo, e quem sabe, necessário, pois o próprio Justo e Servo escolheu este sinal.

Pe.João Azeredo