2 de dez. de 2012

1º Domingo Advento - 1ª Parte (C)

Quando se aproxima uma visita esperada, a maioria das pessoas não dorme muito bem. Quando a visita é temida, as pessoas ficam inquietas. Quando é desejada, ficam agitadas. Porém, há uma diferença: a tensão do medo, paralisa; E a tensão do desejo, desperta criatividade;

O evangelho deste domingo (02/12/12), alude as 2 (duas) atitudes, anunciando cataclismos cósmicos, que encherão os homens de medo (Lc 21,26). Porém, para os cristãos tudo isso deve significar:  

"Coragem, vossa salvação chegou !" 
 (Lc 21,28)

O cristão vive a espera "daquele dia" num espírito de "sóbria ebriedade", fazendo coisas que ninguém faria, mas sabendo muito bem o por quê. Nós já não vivemos para nós, mas para Ele que por nós morreu e ressuscitou (para vir novamente até nós).

Paulo escreve maravilhosamente essa realidade na sua carta escatológica por excelência, a Tessalonicenses (2ª Leitura). Na ânsia pela vinda do Senhor, sempre podemos crescer mais (e Ele que nos deixa crescer), para que sua chegada seja preparada do modo mais perfeito possível.

A idéia do crescimento é muito valiosa em nossa vida cristã. É o remédio contra o desespero de quem acha que sempre será inaceitável para Deus; E contra a acomodação dos que dizem que "ninguém é perfeito",  podemos dizer que não somos perfeitos, mas nem por isso a perfeição deixa de ser nossa vocação. O caminho do cristão não consiste em uma perfeição alcançada e acabada, mas numa contínua conversão para a santidade de Deus, que é sempre maior do que nós. O importante é nunca ficarmos satisfeito com o que concluímos e somos. Em cada novo dia devemos voltar daquilo que foi errado e progredir naquilo que foi bom.

Assim, a idéia de um dia definitivo não paralisa o cristão, mas o torna inventivo. O desinstala. Quem acha que não precisa mudar mais nada em sua vida, não é cristão. Alguém pode achar que está praticando razoavelmente bem os deveres para com sua família, em termos de educação; Para com seus empregados, em termos de salário; Para com sua esposa, em termos de carinho e fidelidade; E até para com a Igreja em termos contribuição para suas necessidades financeiras; Entretanto, pode estar cego diante do que é exigido para estruturar melhor a sociedade, para que a justiça seja promovida e não contrariada. Tal pessoa precisa crescer muito. E aí se não quiser... 

Um jovem, por outro lado, pode perguntar-se, como o salmista:

"Como pode um jovem conservar puro seu caminho ?"

Cresça, que aprenderá sempre melhor em que consiste a verdadeira pureza. Só nunca se contente com um "padrão aceitável para a sociedade". Portanto, a liturgia de hoje nos ensina o dinamismo do crescimento cristão, com vistas ao reencontro definitivo com nosso Senhor

O homem e a sociedade sempre podem ser renovados. A 1ª Leitura nos lembra dessa verdade fundamental. Jerusalém, no tempo pós-exílico, era tanto Monte de Javé quanto um monte de problemas. Mas mesmo assim lhe foi prometido um novo nome, como sinal de uma nova realidade: "Deus nossa justiça" (cf.Jeremias 33,16). Este texto confere, portanto, a expectativa cristã num toque comunitário. Assim podemos interpretar também a expressão da oração do dia, que pede para que alcancemos o Reino celestial

Num reino, ninguém está só. Daí ser legítima a tradução do missal brasileiro: "a comunidade dos justos". Um novo nome para Jerusalém, uma utopia válida para todos nós, eis que nos impele ao encontro do Senhor que vem.

Pe.João Azeredo