31 de dez. de 2012

Missa Santa Mãe de Deus (A/B/C) - 1ª parte

Nascido de mulher, nascido sob a Lei


Quem se lembra da antiga liturgia gregoriana, hoje terá saudades da maravilhosa antífona salve sacta parens (salve, santa genitora), a participação de Maria no mistério da encarnação. Celebramos a oitava de natal. Ao oitavo dia do parto confere-se ao filho a circuncisão (nome antigo desta festa), acompanhada da imposição de Maria nesse mistério. É integração na comunidade judaica. A 2ª leitura ressalta a maternidade e o rito judaico:

"nascido de mulher, nascido sob a Lei" 
(Galátas 4,4)

Mediante a figura de Maria, é celebrada a inserção de Jesus na humanidade, especificamente na comunidade judaica. Pois Ele não era "bom demais" para nascer como homem, nem para ser submetido à Lei judaica. Com isso, combina bem o fato de celebrarmos essa festa no início do ano civil, lembrando a benção do ano novo israelita (1ª Leitura), reforçada pelo pedido de benção no salmo responsorial. Aliás, o nome que Jesus recebe (evangelho) é uma benção: Ieshua (Javé Salva)

Através do nascimento maravilhoso, Maria deu Jesus à humanidade como um presente de Deus (cf. 4º domingo Advento) no seio de um povo com leis e costumes, um povo sobre o qual Deus faz "brilhar sua face", e o nome de Jesus traz a benção do Senhor. Jesus, "Senhor salva", este é o nome que doravante será invocado sobre a humanidade (cf. Números 6,27).

A mediação da comunidade de Israel no projeto salvífico do Senhor nos ensina que Ele não ama abstratamente, mas através de pessoas e comunidades concretas. Só o que é concreto pode ser realidade. Assim, com Maria no seio do povo de Israel, foi realizado um caminho concreto para o Salvador, e para o mundo de hoje, serão comunidades concretas, as portadoras de Cristo com salvação de Deus . Maria é protótipo da Igreja e das comunidades eclesiais (cf.oração do dia).

A festa de hoje remete também "a renhida discussão teológica que reclamou para Maria o título de Theotokos, "genitora (mãe) de Deus" (Concílio de Éfeso). De certo, Deus não tem mãe, mas escolheu Maria como mãe para um filho que em tudo realiza a obra de salvação. Santificou Nela a maternidade, quando o Filho assumiu a humanidade. Deus experimentou a realidade íntima da maternidade em Cristo. A maternidade é, como a humanidade, (capasc Dei) capaz de receber Deus... Um Deus tão grande, que conhece também o mistério da maternidade, e por dentro!

Para captar isso talvez tenhamos de modificar um pouco nosso conceito de Deus.
Pe.João Azeredo