29 de mar. de 2013

Sexta-feira Santa (A/B/C) - 1ª parte

A CRUZ GLORIOSA

Durante o TRÍDUO SACRO, a liturgia segue os passos no tempo da Quaresma. O Tríduo Sacro é um grande drama, uma grande encenação do sofrimento do Senhor. Por isso, tendo representado a Instituição da Ceia na tarde da quinta-feira, a liturgia não voltará a celebrar a Eucaristia até a noite pascal, assim como Jesus não voltou a celebrá-la até que celebrasse no Reino de Deus (Mateus 26,29 e par). Assim, no dia em que o sacrifício de Cristo está mais central do que nunca, a liturgia não celebra o sacrifício na Missa, mas uma evocação de sua morte que não deixa de estar em íntima união com a missa de Quinta-feira Santa, já que o pão consagrado ontem é consumido hoje.


A liturgia nos faz sentir o significado do sofrimento de Cristo, e as duas leituras que preparam a leitura do evangelho são fundamentais para contemplarmos este mistério.

A 1° leitura apresenta o 4° canto do Servo de Deus (Isaias 52 13-53, 12). Neste texto, a jovem Igreja encontrou o fio escondido que a existência de Jesus revelou e levou ao fim, a doação da vida do justo pela salvação dos irmãos, mesmo dos que O rejeitaram. Como diz a 2° leitura (Hebreus 4 e 5), Jesus participou em tudo de nossa condição humana, menos do pecado. Sua existência não foi alheia à nossa, como a de um anjo. Jesus teve de descobrir continuamente o sentido de sua existência, embora a vivesse de um modo divino em contínua união com o Pai. Assim, formado na escola da piedade judaica, ele conheceu a tradição que considerava a salvação como fruto do sofrimento redentor.

Mas esta não era a teologia dominante do judaísmo farisaico, que esperava a salvação a partir das instituições, da observância legalista, de algum messias político... Jesus, ao contrário, reconheceu na sua experiência íntima com Deus, a experiência com os “pobres de Deus”, do profeta rejeitado, e do justo sacrificado pelos seus irmãos. Em obediência, Ele assumiu o projeto do Pai até o fim. É isso que nos ensinam as duas primeiras leituras, com suas expressões humanas e existenciais, que sacodem o nosso cristianismo monofisista (10):

“Pedidos e súplicas... veemente clamor e lágrimas... embora fosse Filho, aprendeu a obediência pelo sofrimento” (Hebreus 5,7-8).
Pe.João Azeredo