Lucas apresenta à narração de Marcos algumas feições características: na última ceia, Jesus se coloca como exemplo de serviço (22,24-25); Os discípulos enfrentarão a mesma hostilidade que Ele (35-38); Jesus aparece como modelo de homem justo e piedoso. E é reconhecido como tal, pelas mulheres ao longo do caminho (23,27), e sobretudo mostrando sua compaixão para com elas e para com seus filhos (23,28). Porém, é na cruz que se manifestam em Jesus a graça e a bondade de Deus, como também seu perdão:
promete o paraíso ao “bom ladrão”
(Lucas 23,39-43)
Em vez do Salmo 22 (21), cujo início soa como desespero, Lucas coloca na boca de Cristo, morrendo na cruz, uma palavra de plena entrega de sua vida (23,46).
Também não faltam exortações para a vida cristã: Simão deve fortalecer seus irmãos na fé (22,21-32). Os discípulos, em Getsêmani, devem rezar para “não entrar na tentação” (22,40-46) (alusão ao perigo da apostasia, no tempo de Lucas).
Vale a pena reler a Paixão segundo
Lucas tendo diante dos olhos as fórmulas do anúncio de Cristo pelos primeiros
cristãos. Só alguns indícios: a acusação quanto à atividade de Jesus (23,5) é
formulada conforme o querigma (cf. Atos 10,37ss). A morte de Jesus provoca
arrependimento (23,48), como também acontecerá quando os apóstolos proclamarem
o “querigma” (cf. Atos 2,37 3,19). Para Lucas, narrar a Paixão de Nosso
Senhor não é obra de historiador acadêmico, mas evangelização. E provocar o
confronto com o Filho de Deus hoje.
Pe.João Azeredo