29 de mar. de 2013

Sexta-feira Santa (A/B/C) - 2ª parte


Inclinado a substantificar a natureza divina de Cristo, desconsiderando encarnação em verdadeira existência humana. Esta cristologia da “quenose” (despojamento), comentário da missa do dia de Natal, e da verdadeira humanidade de Jesus, é pressuposta para compreender a cristologia da glória, no relato da Paixão de Jesus segundo João (evangelho). João mostra o sofrimento do Cristo fortemente à luz da fé pós pascal. Mas nem por isso nega a dimensão trágica da experiência humana de Jesus. Antes, a supõe e a coloca na luz de sua glória divina.

Tal procedimento não teria sentido se a gente não estivesse profundamente convencido da realidade do abismo do sofrimento pelo qual Ele passou. Pois é neste abismo que se realiza a revelação da glória de Deus, que é amor incomensurável. Assim, merece especial atenção nesta narração, a majestade de Jesus na hora de sua prisão, a ironia como “rei dos judeus” (declarado por Pilatos formalmente), o sentido do Reino de Jesus e a cena de sua morte (fonte de Espírito e Vida).

Cristo da Paixão, segundo João, é parecido com aquele Cristo vestido de traje sacerdotal ou real, coroado do diadema imperial, que os artistas do começo da Idade Média colocavam na cruz. É a visão teológica da Cruz Gloriosa que domina a segunda parte da celebração da Sexta-feira Santa, a adoração da cruz. Há  alternância da lamentação do Cristo rejeitado com a aclamação de sua glória (Hágios ho Théos).


Entre as leituras e a Veneração da Cruz gloriosa, pronunciam-se as grandes preces da Igreja, modelo das preces dos fiéis em nossas liturgias. Este rito também se inspira na ideia de que a Cruz é a fonte da graça de Deus, na vida da Igreja.

Do lado aberto do Salvador nasce a Igreja.

A terceira parte da liturgia é o despojado rito de comunhão com o Senhor que nos amou até o fim. Este rito estabelece a unidade da presente celebração com a de ontem, consumindo-se hoje as Santas Espécies consagradas ontem (chamadas “pré-consagradas”). A benção final tem um texto próprio, evocando a perspectiva da Ressurreição.
Pe.João Azeredo